Curadoria: Ana Rito
Composto por trabalhos de artistas nacionais e internacionais de renome, numa seleção que procurará “marcar a história do evento, ao mostrar trabalhos de uma fotografia “expandida, cruzada, intermedia e híbrida”.
Panta Rhei. Tudo flui. Tal qual o rio de Heráclito: «Nenhum homem se banha no mesmo rio duas vezes, pois não é o mesmo rio e ele não é o mesmo homem», assim é com as imagens paradoxais. As águas que banham a Lezíria parecem estáticas, mas correm, gerando um fluxo constante de imagens. Não olhamos duas vezes a mesma imagem, porque esta é sempre outra, na medida em que aquele que a olha é sempre outro; Não existem, portanto, imagens fixas. A técnica parece afirmá-lo, mas estas são percepcionadas sempre por um sujeito em movimento, em constante mutação. Ao devir, à impermanência que nos aponta o filósofo grego, acrescentamos o conceito de paralaxe: um aparente deslocamento do objecto observado, aqui imagem, que é causado por uma mudança no posicionamento do observador.
Ora, é precisamente no intervalo entre o fixo e o movente, a imagem e o corpo, o óptico e o háptico, que nos situamos: no território das imagens paradoxais que são duplas por natureza.
O programa curatorial apresenta um conjunto de obras de artistas nacionais e internacionais que permite criar zonas de contacto e de diálogo. Considerando as relações entre a fotografia e a literatura, a escultura, o desenho, o cinema ou a vídeo arte, as duas exposições são concebidas como constelações entre universos autorais: do campo expandido da fotografia ao objecto.
Tendo como ponto de partida o enquadramento da paisagem e a dimensão imagética da palavra, NÃO OLHAMOS DUAS VEZES A MESMA IMAGEM,
propõe várias intervenções nos espaços da Biblioteca (incluindo as salas de leitura) combinando fotografia e imagem em movimento na constituição de uma poética cruzada entre medium/matéria e lugar.
Desde o conceito de “esquisso fotográfico” à foto-instalação, passando por manifestações de carácter híbrido, esta é uma proposta que coloca em cena o espaço agora ocupado, o texto-imagem ou a janela-ecrã que o emoldura. Na exposição DIANTE-DENTRO, é a imagem intersticial – resultado do efeito de paralaxe, do reposicionamento dos corpos e da sobreposição de campos perceptivos – que intui o devir, conceptualizando a denominada “imagem com relevo” e a relação entre ar (imagem) e pedra (objecto-escultura). Num primeiro núcleo da exposição, e a partir de colecções privadas, é apresentado um conjunto de cartões estereoscópicos, positivos em albumina e visores do séc. XIX, na constituição de uma antecâmara desenvolvida em parceria com a investigadora Ana David Mendes. A exposição inclui, a par deste intróito, projectos de artistas contemporâneos que reflectem as relações históricas entre o fotográfico e o escultórico na intersecção de imagens “esculpidas” e o dispositivo. A fotografia atravessa o corpo e introduz-se entre o olhar e o mundo. Ao introduzir-se entre o olhar e o mundo subtrai imagens, acrescenta e produz novos objectos. Subtraídas ao mundo, aos corpos e aos objectos as imagens adicionam-se-lhe de novo, numa espécie de segunda pele, a que se seguem outras numa renovação permanente. Tudo fluí. Tal qual o rio de Heráclito. Em loop.
BIOGRAFIA
Artista visual, curadora, investigadora e docente universitária. É Doutorada em Belas Artes pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, na especialidade de Instalação. É Sub-Directora do Colégio das Artes da Universidade de Coimbra.
Desenvolve, desde 2002, projectos que cruzam a prática artística e curatorial, sendo o seu domínio de especialização a performatividade da imagem movente e as dinâmicas do espectador, no seio do dispositivo expositivo
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